Terminologias atuais para falar sobre deficiência
POR LAK LOBATO · 2
DE DEZEMBRO DE 2015
Resolvi
trazer ao nosso site alguns termos utilizados para se referir a pessoas com
deficiência de modo geral, mas especialmente para esclarecer muitos dos termos
que usamos cotidianamente, para explicar ou enfatizar determinadas
características da nossa condição.
Alguns
termos são científicos, outros oficiais e outros coloquiais, usados no
dia-a-dia. Alguns são usados de forma pejorativa e outros são uma forma de
“enfeitar” a deficiência. Já outros termos como “deficiente auditivo” e “surdo”
podem parecer sinônimos, mas não significam exatamente a mesma coisa.
Por
isso fiz uma compilação de vários desses rótulos usados para nos identificar e
uma pequena explicação com o significado de cada um.
surdo
Alguém
que tem perda total da audição.
Surdo
Utiliza-se
dessa forma, com a primeira letra em maiúscula, ao se referir a alguém com
perda auditiva que faz parte da Comunidade Surda e utiliza a língua de sinais
como sua língua-mãe.
Deficiente auditivo
Pode
ser usado para qualquer pessoa com perda auditiva, mas é mais
comum utilizar este termo para quem tem algum resíduo auditivo ou que ouve
alguma coisa através de aparelhos ou implantes auditivos. Embora o termo
deficiente, como sujeito, deva ser preferencialmente substituído por “pessoa
com deficiência auditiva” (veja abaixo).
Ouvinte
Usado
para pessoas que não tem nenhuma perda auditiva e não precisam de aparelhos
para ouvir, ou seja, mesmo se uma pessoa com perda auditiva voltar a escutar,
ela não pode ser considerada um ouvinte. Veja o texto Implantados não são ouvintes.
Surdo Oralizado / Surdo
usuário da Língua Portuguesa
São
as pessoas com perda auditiva que utilizam a voz como principal forma de
comunicação e podem ser auxiliados pela leitura labial e o uso de aparelhos ou
implantes auditivos.
Veja mais: O que são surdos oralizados?
Veja mais: O que são surdos oralizados?
Surdo Sinalizante
São
as pessoas com perda auditiva que utilizam a língua de sinais (Libras, no
Brasil) como forma principal de comunicação. Podem ou não utilizar aparelhos ou
implantes auditivos. Sinônimo de “Surdo” (veja acima).
Surdo-mudo
Utilizar
este termo para deficientes auditivos em geral é errado e ofensivo. É uma forma
antiga de se referir aos surdos, mas que já caiu em desuso e hoje em dia, gera
desconforto da grande maioria dos surdos. Pouquíssimas pessoas que têm perda
auditiva também são mudas, pois é raro que elas tenham algum problema nas
cordas vocais.
Mudo
Apesar
de menos comum, há pessoas que possuem incapacidade de falar, devido
a problemas nas suas cordas vocais, afasia por sequela de AVC, ausência de
língua ou mandíbula, entre outros fatores.
Surdocego
Pessoas
com deficiência auditiva e visual concomitantes. Embora aparentemente seja a
soma de duas deficiências (auditiva e visual), a OMS reconhece a surdocegueira
como uma deficiência única. Sua comunicação pode ser oral ou através da língua
de sinais tátil ou pelo método Tadoma. Helen
Keller foi a mais famosa ativista e personalidade surdocega.
Implantado
São
pessoas que utilizam algum implante. No caso dos deficientes auditivos, alguém
que usa um implante auditivo para recuperar parte da audição. Pode ser um
implante coclear, implante de condução óssea (como o Baha) ou implante de
tronco encefálico.
Unilateral/bilateral
Se
estiver se referindo à surdez, é para identificar pessoas não escutam com um ou
os dois ouvidos, respectivamente.
Se estiver se referindo ao implante auditivo, significa que a pessoa o utiliza em apenas um ouvido ou nos dois, respectivamente.
Se estiver se referindo ao implante auditivo, significa que a pessoa o utiliza em apenas um ouvido ou nos dois, respectivamente.
Pré-lingual,
peri-lingual ou pós-lingual
termos
utilizados para identificar a época que a pessoa teve a perda auditiva com
relação ao estágio da aquisição da linguagem. Significam respectivamente:
antes, durante ou depois do desenvolvimento da linguagem e da fala.
Além
dos termos específicos para pessoas com deficiência auditiva, também existem os
termos para se referir a todas as pessoas que possuem deficiência:
Deficiente
Termo
genérico utilizado para determinar qualquer pessoa com deficiência. Hoje em
dia, é um termo considerado “errado”, pois deficiência é uma condição que a pessoa
tem, mas não algo que ela é como um todo.
Pessoa Portadora de
Deficiência (PPD)
Este
termo foi utilizado oficialmente na legislação brasileira quando se falava de
pessoas com deficiência até a Convenção dos Direitos das Pessoas com
Deficiência da ONU. Desde 2010, existe uma portaria que diz que onde lemos
“Pessoa Portadora de Deficiência” deve-se ler “Pessoa com Deficiência”.
Pessoa com Deficiência
(PCD)
Termo
mais correto e oficialmente reconhecido para referir-se a pessoas que possuem
deficiência física, auditiva, visual, intelectual ou múltipla (duas ou mais
deficiências). O termo foi considerado o mais adequado, porque destaca o
sujeito antes da condição. Pode-se mudar conforme o discurso:
pessoa/moça/criança/profissional com deficiência/surdez/nanismo, etc.
Pessoa com Necessidades
Especiais (PNE)
Utilizado
para um grupo que inclui idosos, gestantes obesos, pessoas com deficiência e
toda pessoa que necessite de alguma adaptação ou tratamento específico para
determinada situação (estacionar o carro, esperar na fila, etc).
Pessoa
com deficiência sensorial
São
as pessoas que possuem a perda de algum sentido, principalmente a visão e
audição.
Pessoa com deficiência
física
Termo
que deve utilizado exclusivamente para pessoas que possuem limitações
relacionadas aos aspectos físicos e motores, como ausência de membros,
paralisias, nanismo, entre outras causas. Muita gente usa este termo para se
referir a toda e qualquer pessoa com deficiência, o que é incorreto. Uma vaga
para pessoas com deficiência física, por exemplo, não dá direito a uma pessoa
com deficiência sensorial utilizá-la.
Pessoa com deficiência
múltipla
Pessoas
que possuem mais de uma deficiência concomitante. Deve-se usar termos para
deficiências específicas, como intelectual e psicossocial, tomando o cuidado de
aplicá-las no contexto correto.
Inválido, incapaz,
doente, excepcional, aleijado ou pessoa com problema
Estes
termos que caíram em desuso pois não representam mais a realidade das PCDs. O
termo “doente” deve ser evitado, pois é diferente de “deficiência”, que é a
perda permanente parcial ou total de uma funcionalidade do corpo, não estando
necessariamente relacionada a uma doença.
Portador de deficiência
O
termo portador foi considerado inadequado, pois o verbo “portar” significa
“carregar” e deficiência não é algo que carregamos, mas algo que temos
permanentemente. Podemos esquecer algo que carregamos em casa, como por
exemplo, nossa bolsa, nossas chaves ou até nossas próteses, mas as deficiências
sempre estarão presentes conosco.
mudinho ou surdinho
Estes
termos tentam amenizar a deficiência e podem até soar engraçadinhos quando
temos intimidade com a pessoa ou quando falamos com tom de brincadeira entre
amigos. Mas, não deve ser usado como uma forma aceitável para se referir a
pessoas com deficiência auditiva de modo geral.
normal
Usar
o termo “normal” para pessoas que não possuem deficiência também é inadequado,
já que o contrário de normal é “anormal” e ter uma deficiência não significa
anormalidade.
Pessoas Especiais
É
comum se referirem a PcDs como pessoas especiais. Isso é amplamente usado,
inclusive em programas governamentais. Mas especialistas e muitas pessoas com
deficiência têm combatido este termo, já que uma pessoa não se torna especial
simplesmente por ter uma deficiência, além de que isso significaria que
qualquer pessoa que não tenha uma deficiência seria menos especial.
O
uso no contexto de “atendimento especial” ou “necessidades especiais” ainda é
bem comum, querendo referir-se que o atendimento e as necessidades são
especiais, não as pessoas. Embora, aqui entre nós, eu considere o termo
“específico” mais adequado, porque “especial” dá a entender que é algo VIP,
extraordinário e não feito de maneira adaptada para uma condição específica
diferente do padrão.
“Eficientes”
Também
é comum fazer um trocadilho para chamar as pessoas com deficiência de
“eficientes”, de forma a enfatizar que apesar de terem uma deficiência, essas
pessoas ainda podem trabalhar e fazerem parte da sociedade. A questão é que a
palavra deficiência é usada como antônimo de “eficiência”, quando na verdade,
este é “ineficiência”. Logo, ter deficiência não significa ser ineficiente, mas
ter uma perda permanente total ou parcial de alguma funcionalidade do corpo.
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